NADA

ESTÁ TUDO FEITO?

Como? Já não é possível?
Como? Está tudo feito?
Saiam...
Busquem, procurem.
Olhem, vejam.
Escutem, ouçam.
Cheirem, farejem.
Notem bem.
Reparem bem.
Aquilo que é desprezado, deitado fora, inútil.
Isso!! Objectos, ideias, conceitos, sentimentos também...
Vejam, vejam bem.
Os comportamentos, atitudes, gestos.
O comum, corriqueiro, ritual.
O estranho, confuso, sem importância, de mau gosto.
Acontecimentos mesmo, porque não?
Busquem, procurem.
Procurem em tudo o que for lugar.
Becos, ruas, vilas, cidades, campos.
Entre as frinchas das portas, nas paredes.
Chão ou céu.
Luz ou sombra.
Também em livros, jornais, revistas.
Emissões de rádio, televisão, cinema, vídeo, Internet.
Recolham...
Recolham tudo no vosso saco de nadas.
Sem pensar, maquinalmente, ritualmente.
Coração aberto, transbordante.
Esperem! Esperem!!
Não viram bem.
Apanhem este lixo.
E olhem acolá!
Uma porção de ideais abandonados.
Desperdícios de alguém que já passou.
Aqui! Escutem!..
Escutem o vento.
Que serão estes sons?
Palavras malditas?
Simples melodias esquecidas?
Ali!! Mais adiante!! Ao longe!
Sim, aí!
Sentimentos enjeitados, farrapos?
COMO ESCAPAR À BANALIDADE ORIGINAL?

 NOVO??

Reparem por favor, reparem...
Metam tudo no saco.
Não deixem escapar nada.
Pois de nadas é feito.
Encher-se-á o saco??
Guardem o vosso.
Descansem agora.
Descontraiam-se.
Esqueçam-se mesmo.
Mas!!?..
Ai o meu saco!
Onde é que ele está?
Será que desapareceu?
Corro à sua procura.
Abro-o.
Que vejo eu??
Está tudo misturado.
Meto a mão.

TUDO É NOVO.
TUDO É NASCIDO.

J.P.F.P.T./Jan.89

 

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